domingo, 14 de fevereiro de 2010

Muticom: Jovens questionam definição de cultura solidária

Jovens de diversos países latino-americanos e caribenhos se reuniram no auditório da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, para debater sobre cultura solidária no Encontro Continental de Jovens, realizado nesta terça-feira, dia 2 de fevereiro. O tema ‘Dialogando e transmitindo cultura solidária' foi conduzido por Pedro Sánchez, Secretário Executivo da Organização Católica Latino-americana e Caribenha de Comunicação - OCLACC, com palestras do jornalista e professor Élson Faxina e do músico uruguaio Daniel Drexler.

Oriundo de uma família de músicos, Drexler defendeu a integração latino-americana por meio da valorização cultural e autoral, sendo necessário diminuir a distância relacional existente entre os países latino-americanos. Para ele, a solução está na música "que é capaz de ligar diversos pontos comuns entre as regiões distintas, a exemplo do sul do Brasil com o Uruguai e a Argentina. Nessa região, já começamos a fazer encontros entre músicos para trocar ideias e formar parcerias entre os autores", disse o músico. De acordo com Drexler, esse formato faz gerar tendências musicais e culturCecília de PaivaDebate durante Encontro de Jovens Comunicadoresais, além de redes de trabalho coletivo, "construindo produtos de alta qualidade não somente em relação ao país de origem do autor, mas de toda a América Latina", acredita Drexler.

Para o professor Élson Faxina, o problema está na questão da exploração entre os indivíduos, e que deveríamos provocar mudanças em vez de tirar proveito da sociedade. "Esse é um desafio que nos toca sempre, principalmente aos jovens que anseiam mudanças rápidas e eficazes. Estamos em um momento de revisão da sociedade, e temos muito mais dúvidas que certezas", disse Faxina.

Após as propostas da mesa, a plateia apresentou suas considerações, com jovens buscando respostas e ao mesmo tempo apontando soluções relativas ao tema proposto e sobre as significações dos termos debatidos. A jovem peruana Nina, por exemplo, foi incisiva na proposta de reflexão acerca da distinção entre interculturalidade, pluriculturalidade e relações entre as culturas. Para ela, a compreensão facilitaria o intercâmbio de ideias e favoreceria o desenvolvimento econômico.

Outras colocações e experiências foram expostas e comentadas, chegando a conclusão de que é preciso construir um mundo de comunhão, no formato que a humanidade precisa e não de acordo com o capitalismo ou como a mídia o apresenta.

* Cecília de Paiva, jornalista, revista Missões no Muticom em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

FSM: Ministério Público busca maior interação com a sociedade

29/01/2010 | Cecília de Paiva *

O tema "Ministério Público e Direitos Humanos: a década que passou e a década que virá" provocou mais uma série de debates entre os participantes do Fórum Social Mundial 10 anos. O encontro ocorreu na tarde do dia 28 de janeiro no Palácio do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, com a presença de representantes dos Ministérios Públicos (MP) e de organizações da sociedade civil, tendo ao final, a presença do sociólogo Boaventura de Souza Santos, que congratulou o encontro.

Em sua breve intervenção, o sociólogo e escritor português afirmou que, "todos podem respirar mais livremente no Rio Grande do Sul com ações desse tipo. Ações assim contribuem para cada um de nós. Com isso, os magistrados do Ministério Público contribuem com o futuro de seus filhos e netos, para os brasileiros, e para todo mundo que procura hoje seu espaço," destacou.

Cecília de PaivaMembros do Ministério PúblicoPara os membros do Ministério Público, além de avaliarem os últimos dez anos da Instituição, o encontro contribuiu para planejar a próxima década na atuação em favor dos Direitos Humanos. Após a abertura do encontro pela procuradora-geral de Justiça, Simone Mariano da Rocha, os debatedores apontaram aspectos negativos, situações favoráveis e possibilidades de uma futura atuação baseada no diálogo e na maior interação entre o MP e a sociedade.

Na opinião do presidente do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais (CNPG), Olympio de Sá Sotto Maior, existem muitas leis que "não pegam" e são exatamente essas que deveriam garantir os direitos da maioria. Em contrapartida, "as leis que interessam aos grupos hegemônicos, aos detentores do poder político e financeiro, essas leis todas pegam", afirmou. Para ele, falar de direitos humanos é chamar a responsabilidade e o protagonismo do MP em favor das melhorias sociais. O Procurador de Justiça destacou ainda que, ao MP foi incumbido defender o regime democrático e por isso, "não queremos Promotores de Justiça com suas portas fechadas, nem burocratas do direito. O Promotor de Justiça tem que passar pelas favelas, pelos postos de atendimento à saúde com suas filas intermináveis e não se sentir bem somente porque falou no último processo. O MP deve estar junto da sociedade e há instrumentos legais para isso", aconselhou o procurador-geral complementando ainda que, "lugar de direitos humanos deve ser nos orçamentos públicos" citando que os cofres públicos devem ser utilizados para fazer cumprir os direitos da maioria.

Rubia Abes da Cruz, da Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, apresentou algumas atuações do MP em favor dos direitos da mulher. Para ela, há questões muito fortes de discriminação que devem ser tratadas pelo MP, porque ele é a primeira porta a ser procurada após a polícia em casos de violação de direitos. A educadora e millitante Vanda Gomes Pinedo apresentou questões de direitos humanos no combate ao racismo, citando os vários eixos onde se apresentam questões raciais no Brasil. Segundo ela, a titulação da terra, a saúde, a educação, os direitos da mulher, os ataques aos quilombolas e às religiões afro-descendentes demandam muito trabalho para o MP. Em seguida, Vanda, juntamente com dois representantes dos quilombolas, entregaram relatório de atividades e apelos ao presidente do CNPG, Olympio de Sá Sotto Maior, solicitando ações da Instituição em suas demandas.

O debate continuou a ressaltar a necessidade de maior diálogo entre MP e sociedade na fala de Írio Luiz Conti, presidente da FIAN Internacional. De acordo com Conti, "há uma distância histórica entre a sociedade civil e o MP, fazendo com que haja pouco acesso à informação, dificultando a interação para que os direitos humanos possam ser respeitados". Para ele, os espaços de diálogo em relação à Instituição são ínfimos diante das demandas sociais, necessitando "ampliar tais espaços em âmbito institucional não deixando relegado à algumas pessoas ou órgãos". Conti citou também algumas formas para criar canais de interação, como parcerias e outras estratégias de acordo com as perspectivas sociais e a realidade local.

Ao todo, foram mais de vinte apresentações com propostas, incluindo denúncias sobre as ações feitas contra o MST no Rio Grande do Sul, por força do MP. Ao final, Boaventura comentou esse fato, dizendo que "quando as pessoas não podem fazer uma marcha e não ter acesso à escola, não estamos em um estado de democracia. Estamos em outra coisa que não é a democracia", enfatizou. Segundo o sociólogo, a casa do FSM é o Rio grande do Sul e se as ações civis públicas não forem arquivadas, "o ar do Rio Grande do Sul torna-se irrespirável para o Fórum". Boaventura concluiu que debates como esse abre possibilidades de um futuro com espaços de direitos e ampla democracia.

* Cecília de Paiva, jornalista, revista Missões no FSM 10 anos, em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

Muticom: Movimentos sociais nasceram dos murmúrios dos caipiras

04/02/2010 | Cecília de Paiva *

O sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, da PUCMG, percorreu a história da desestruturação ocorrida durante a formação dos povos latinos para então discorrer sobre os "Novos cenários políticos e sociais e processos de comunicação", tema da manhã do dia 4 de fevereiro, no Mutirão de Comunicação - Muticom, em Porto Alegre. A conferência ocorreu no plenário do Centro de Eventos do prédio 41 da PUCRS, sob a coordenação de Anamaría Rodríguez, da Colômbia.

Jaime C. PatiasPedro Ribeiro de Oliveira durante ConferênciaPedro Ribeiro, membro da Coordenação do Movimento Fé e Política, iniciou sua fala a partir da palavra "caipira", que significa estar envergonhado. Segundo ele, é assim que chamamos o povo da roça, que nada mais é que o índio e o africano destribalizados, envergonhados pela perda da honra e da dignidade. Trata-se de alguém que perdeu sua tribo e assim, "o caipira entrou na sociedade envergonhado. Veio conviver com os seus colonizadores que, com a força militar, construíram um novo sistema em nome de uma civilização superior. Subjugaram povos com suas armas e os remanescentes das sociedades tribais formaram as periferias, girando em torno das hegemonias, do poderio central", disse o sociólogo.

Os subjugados, apesar das situações de repressão ao longo da história, não pararam de murmurar, de contar e cantar seus causos repassando suas memórias de geração em geração. Para o sociólogo, essa comunicação se tornou a cultura popular, chave dos movimentos sociais. Houve tentativas de sufocar e desqualificar, usando os meios de comunicação para abafar, mas "a cultura popular encontrou alguns nichos, uma série de espaços marginais que se tornaram centros aglutinadores da cultura popular resguardando e recuperando a memória de povos e culturas", completou Pedro.

Dessa forma, surgiram novos atores em meio aos sistemas hegemônicos, com movimentos sociais buscando a formação das consciências e não a conquista do poder. Veio o Fórum Social Mundial e ecoou o anúncio de que um outro mundo é possível. De acordo com o conferencista, ainda não se sabe que mundo é esse que se quer, mas já se sabe não ser possível retornar a um sistema construtivista que destrói o mundo.

O discurso sobre um sistema que promete atender a todos os desejos já não é mais credível, sendo uma utopia muito maior do que a utopia de se criar um sistema solidário. Nesse sentido, Pedro disse acreditar na capacidade transformadora dos movimentos sociais, pois são representantes da voz silenciada que aprendeu a murmurar e a dizer uma mensagem de esperança, considerando o Mutirão de Comunicação uma forma de ajudar a amplificar essa mensagem.


Após a conferência da manhã, foram anunciadas as abordagens e painéis do período da tarde, incluindo os seminários sobre "Políticas Públicas e Gestão da Comunicação no Estado", "Novos processos de comunicação nos diferentes atores sociais", "Meios públicos e direito à comunicação", e "Ética da comunicação na perspectiva de direitos", com apresentação dos respectivos coordenadores.

* Cecília de Paiva, jornalista, revista Missões no Muticom em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

Muticom incentiva dominar os segredos das novas tecnologias

05/02/2010 | Cecília de Paiva *

"Economia e comunicação na era digital" foi o tema que norteou os trabalhos nesta sexta-feira (5), terceiro dia do Muticom, em Porto Alegre, RS, com a conferência principal coordenada pelo jornalista Élson Faxina. Os conferencistas Rubens Salvador Bordini e Luciano Sathler em suas intervenções mencionaram os desafios que as instituições religiosas enfrentam numa sociedade marcada pela rápida evolução tecnológica.

Luciano Sathler, professor de gestão estratégica e presidente para a América Latina da Associação Mundial para a Comunicação Cristã - WACC, afirmou que existem muitos desafios para acabar com a miséria e ao mesmo tempo, com a abundância de informações.

Para ele, todos precisam entender um pouco de economia para deixar de fazer as mesmas coisas e influenciar as audiências dos meios de comunicação. Luciano citou o Evangelho segundo São João para falar sobre a oração de Jesus pedindo ao Pai por seus discípulos, a qual pode ser aplicada hoje. "Que Deus nos livre do mal para que ele não tome conta do meu fazer, que o mal não aconteça a partir de mim", disse.

O professor explicou que, na medida em que dominamos as técnicas, aprendemos a conviver com esse tempo de fartura de dados para poucos e de miséria da informação para a maioria. "Devemos usar as armas daqueles que mandam na economia em favor de uma sociedade diferente.

É essencial compreender como gira a economia digital, que não está somente na comunicação. Ela influencia a biotecnologia, a nanotecnologia, a robótica, e todas as tecnologias da informação e da comunicação", esclareceu Luciano. De acordo com o pesquisador, é preciso impor valores ético-humanistas à técnica para viver de forma digna no novo mundo digital. Além disso é necessário dominar os segredos das novas tecnologia, a partir da educação criando possibilidades e desenvolvendo capacidades.

* Cecília de Paiva, jornalista, revista Missões no Muticom, Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

Muticom: Ministro do Paraguai discute políticas públicas e gestão da comunicação

05/02/2010 | Jaime Carlos Patias e Cecília de Paiva*

Como parte da programação no segundo dia do Mutirão Latino Americano e Caribenho de Comunicação - Muticom, que se realiza em Porto Alegre, RS, aconteceu na tarde do dia 4, o painel sobre políticas publicas e gestão da comunicação do Estado, com os conferencistas que fizeram parte dos debates na noite da abertura. O painel foi mediado pelo professor Pedro Ribeiro de Oliveira e teve a participação do cubano Ismael González González, coordenador da ALBA Cultural, Fernando Checa Montúfar, diretor do CIESPAL - Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina, e Carlos Augusto dos Santos, Ministro de Comunicação do Paraguai.

Cecília de PaivaCarlos Augusto durante painel no MuticomPerguntado sobre o que significa ser Ministro da comunicação do Paraguai, no governo de Fernando Lugo, o jornalista Carlos Augusto afirmou que "antes fazia as perguntas agora tem de respondê-las". O Ministro explicou ainda que com a mudança política no Paraguai, a comunicação tornou-se uma prioridade. "Antes havia um pequeno escritório na Presidência da República, agora atuamos para entender a comunicação como parte de projeto de mudança cultural, pois acreditamos que, além de jornalistas, muitos comunicadores podem se converter em agente de desenvolvimento. Encontramos muita oposição dos proprietários dos meios da comunicação e dos atores políticos que dominavam o poder no passado" afirmou o Ministro.

Carlos Augusto informou ainda que o governo paraguaio instalou nas universidades públicas a cátedra para o desenvolvimento salientando que os empresários dos meios não admitem a existência de rádios comunitárias no Paraguai. "A comunicação hegemônica cresceu mas a participação não está acontecendo. Todo ato comunicativo é político e a cidadania é uma conquista que se dá com as várias ferramentas. A luta por uma agenda pública está nos objetivos centrais de mudanças em curso na América Latina, disse o jornalista lembrando que sempre há quem tema que a cidadania seja protagonista nas mudanças. "A comunicação é um assunto da governabilidade por isso temos de mapear os setores de atuação das empresas e da sociedade civil com suas rádios comunitárias e seus processo tendo a cidadania como protagonista. Nesse processo de mudança política há um denominador comum: a consolidação dos meios públicos na perspectiva de informar, debater e educar", destacou Carlos Augusto.

O Muticom acontece na Capital Gaúcha, nas instalações da PUCRS, e encerrará suas atividades no domingo, dia .

*Revista Missões no Muticom em Porto Alegre, RS.

Fonte: Revista Missões

Diálogo entre culturas exige construção política

"A construção coletiva e o espaço de trocas nem sempre são sinônimos de acordos e da falta de tensões. É uma atitude, uma disposição e não um resultado. Acontecem na sociedade em meio a tensões, conflitos e jogos de poder", disse o coordenador acadêmico do Mutirão Latino Americano e Caribenho de Comunicação, Washington Uranga, na conferência principal deste sábado, dia 06.

Jaime C. PatiasWashington Uranga durante conferênciaDesenvolvendo o tema "Comunicação no diálogo das culturas", o professor Uranga afirmou que convivemos com "perspectivas diferentes, em que cada um observa, interpreta e age a partir de sua identidade cultural. O diálogo entre culturas exige uma tarefa de construção política, uma relação entre atores que assegura direitos e constrói condições para o diálogo", esclareceu Uranga. Para ele, precisamos ter uma postura aberta à escuta sem renunciarmos à identidade e à defesa das próprias ideias.

De acordo com Uranga, é necessário pensar o indivíduo em sua subjetividade como parte da construção da cultura, não existindo diálogo quando ocorre qualquer tipo de exclusão ou de marginalização pelo outro. Para tanto, é necessário construir condições e lutar pela garantia dos direitos humanos, tornando-nos "responsáveis uns pelos outros", afirmou o jornalista fazendo o convite para que todos pensem em pequenas mudanças, de modo a caminhar e observar cada passo.

O professor citou tarefas que podem ser assumidas por todos a partir da perspectiva de direitos humanos, entre elas, criar e promover observatórios e auditorias de comunicação, influenciando na qualidade da comunicação, dos produtos culturais e para melhorar a agenda pública.

A conferência gerou participações provocativas da plateia, a exemplo da pergunta sobre como agir diante de situações em que é o próprio Estado quem desrespeita os direitos humanos. Uranga respondeu que o poder do Estado vem de um processo de delegação e quando há situação de opressão, "é uma tarefa política construir a liberdade, podendo ser pacífica ou não". O conferencista lembrou a existência de mártires na causa de militância política e cultural.

O Muticom teve início dia 03 e encerrará suas atividades no domingo, dia 7, em Porto Alegre, RS.

*Cecília de Paiva, jornalista, revista Missões no Muticom, em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões