sexta-feira, 26 de março de 2010

Afeto

Comprei o livro lançamento da Cremilda Medina "Ciênca e Jornalismo, da herança positivista ao diálogo dos afetos". É um prosseguimento da sua linha de pensamento em relação ao diálogo possível e responsabilidade social do jornalismo. É muito claro em relação à nossa herança positivista e a possível reação diante dela. A aquisição foi fruto da minha participação no seminário coordenado pela autora, sobre liberdade de expressão e direito à informação, contexto América-Latina. Claro que pedi dedicatória, por a acompanhar desde a faculdade.

O seminário ocorreu durante dois dias, 24/25 de março, no Memorial da América Latina, ao lado da Barra Funda. A primeira manhã foi um dos pontos altos: “Panorama nas sociedades latino-americanas – da vocalização da Nova Ordem da Informação à doutrina contemporânea do terror mediático” - Impacto não? O conferencista Demétrio Magnoli é jornalista e estudioso de geopolítica, e vale a pena estudar as produções dele, recomendo. Magnoli contextualizou, política, econômica e socialmente, como está a vivência dos termos do seminário, incluindo o caso da blogueira cubana Yoani Sánchez: http://desdecuba.com/generaciony/.

Ontem falamos da censura imposta ao Estadão a partir da apresentação do José Maria Mayrink. Do Alberto Dines ouvimos sobre o meio século de sua atuação jornalística, dos convites que teve e das retiradas e demissões por força da crença em atender ao interese público, além de pontuações sobre o Observatório de Imprensa. Da Medina, tivemos uma apresentação povoada por reflexões dos participantes acerca da autoria coletiva, em que o jornalismo é mediador da informação de interesse público; do profissional que busca compreender um caos intenso provocado pela velocidade e pela quantidade de ações, e de informações; daquele que organiza um texto coeso, realístico e sem individualismos, sem se sentir o todo-poderoso, porque é um autor representativo.

Durante o tempo em que estivemos com o Alberto Dines, ouvimos sua história e versão sobre o quanto foi 'afetado' pela censura (afeto aqui sugerido no lado dos sentidos que nos fazem provocar revolta dos outros contra nós, nosso sentir na pele a quebra do 'contrato social'). Nesse período, tivemos uma cena marcante proporcionada por Mayrink, Dines e Cremilda: unidos por uma meia-luz, continuaram a conferência apenas com lâmpadas de emergência. Ficamos sem energia elétrica e com uma chuva torrencial que fez minha amiga Karla chegar no seminário toda 'enchuvarada'.

Nada interrompeu o período de debates. E houve cada provocação da platéia! Ótimas e convenientes e algumas inconvenientes, como sempre ocorre em um processo democrático!  Um processo dinâmico, provocativo e participativo. Entre tantas outras abordagens e acontecimentos em relação às apresentações e aos colegas de plateia, valeu muito para minha pesquisa. Algumas dúvidas foram esclarecidas, advindo outras. Se nada sei, não importa tanto, interessante é dizer em qual dimensão não sei.

A organização avisou que haverá continuidade dessa discussão no Memorial da América Latina, abordando a liberdade de imprensa e a democracia, com previsão para os dias 7,8 e 9 de abril.

Sobre a minha opinião no Estadão: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100326/not_imp529387,0.php
o que disse na ocasião foi bem mais do "Há um aspecto positivo nesta história da censura, que chamo de censura continuada: fazer com que a gente acorde para a opressão", e aí me pergunto se eles resumiram o sentido do acordar para a opressão se já estamos vivendo nela e com ela..creio que seria melhor terem escrito o sentido dito de acordar do torpor que essa opressão provoca...