quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dom Caetano toma posse como Bispo de Bauru no Dia de Pentecostes

Original publicado no site da Revista Missões, em 01/06/2009
No Dia de Pentecostes, domingo, 31 de maio, a Diocese de Bauru no estado de São Paulo, reuniu suas comunidades na catedral, para a posse de seu novo bispo, Dom Caetano Ferrari, OFM e celebrar o seu padroeiro, o Divino Espírito Santo, nos 45 anos da sua criação. A cerimônia aconteceu às 15 horas com a presença de mais de duas mil pessoas. Concelebraram cerca de cem padres e dez bispos, entre eles, o bispo emérito de Franca, SP, diocese onde dom Caetano atuava anteriormente e o bispo que atende Pirajuí, SP, sua terra natal.
Durante a celebração foi feita a leitura da carta apostólica em que o Papa Bento XVI faz a transferência de dom Caetano e o nomeia Bispo da Diocese de Bauru. Na sua homilia, dom Caetano destacou o carinho recebido dos fiéis em especial dos freis e familiares, dizendo-se honrado por tantos amigos e parentes vindos das cidades por onde passou. Na sua intervenção o bispo enfatizou a dimensão missionária da Igreja, proposta pelo Documento de Aparecida e as diretrizes da CNBB.
Segundo dom Caetano, “ontem, hoje e amanhã”, todas as dioceses precisam ser missionárias para serem coerentes com o “mandato do Divino Mestre: ide pelo mundo inteiro e evangelizai toda a criatura, enchendo toda a terra com as sementes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.” E prosseguiu com perguntas e respostas: “Para que evangelizar? Para que, em Jesus Cristo, todos os povos, cada pessoa, cada um de nós, tenhamos vida e vida em abundância. Como fazer isso? Aparecida nos diz que toda a diocese deve entrar em estado permanente de missão. E isso exige a conversão, a mudança de mentalidade, a renovação de nossas estruturas”, explicou o novo pastor de Bauru. “O mais importante é o compromisso de todos nós, bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas, agentes de pastoral, coordenadores de comunidades, líderes de movimentos, leigos e leigas, com a evangelização e a Missão. A mudança de mentalidade contempla todos os membros da Igreja a partir do batismo e do crisma que recebemos”, lembrou dom Caetano afirmando ainda que “tudo isso somente será possível, a partir de um renovado encontro pessoal com Jesus Cristo, com o acolhimento dos dons do Espírito e o desejo de fazer a vontade de Deus-Pai: de que todos sejam salvos”, arrematou.
Dom Caetano, que é o 5º bispo de Bauru, falou ainda da renovação espiritual proposta pelo Documento de Aparecida recordando São Francisco e a paixão pela santidade que todos podem ter e que somente o Espírito Santo pode dar, numa alusão ao Dia de Pentecostes.
Após a missa, dom Caetano seguiu em carreata até a Universidade Sagrado Coração, onde foi saudado por parentes, amigos, autoridades e diocesanos.
Entrevista
Dom Caetano Ferrari foi ordenado padre em 27 de dezembro de 1970, e bispo em 7 de julho de 2002, iniciando como auxiliar na Diocese de Franca. Em 7 de dezembro de 2006 assumiu a diocese de Franca como bispo titular. “Evangelizar toda a criatura” é seu lema episcopal que inspira e orienta a sua missão de evangelizar, destacando a dimensão missionária da Igreja, um compromisso muito maior a partir da Conferência de Aparecida.
Missões: O que significa ser bispo no século XXI?
Dom Caetano: Na última Assembleia Geral em Itaici, dedicamos um dia inteiro para discutir a missão dos bispos à luz do Apóstolo Paulo (estamos no Ano Paulino). Foram considerados vários aspectos. O grande desafio é o de ser autoridade-serviço e não autoridade-poder. Isso inclui ser animador na vida da Igreja, junto às lideranças. Saber usar seus conhecimentos no sentido de impulsionar e animar as forças vivas da diocese, em vistas da Evangelização. O forte hoje da Igreja é resgatar a sua missionariedade. Jesus Cristo e a Missão são essenciais no trabalho de hoje. O Concílio Vaticano II, nos apresentou a Igreja-comunhão. Agora o enfoque é a Igreja-missionária. O eixo era: a comunhão com o povo de Deus: a formação, a catequese e os sacramentos. Com Aparecida, o eixo importante é a Igreja-missão, e como consequência, não é somente a formação e a catequese, mas o anúncio, o querigma. Fazer a Igreja voltar a ser missionária, a ser como o Apóstolo Paulo que saiu de Jerusalém e percorreu o mundo anunciando Jesus Cristo e formando a comunidade-Igreja.Inclusive o lema que escolhi, para me inspirar e orientar a minha missão, carrega o aspecto missionário que se tornou um compromisso muito maior com o Documento de Aparecida: entrar em estado permanente de missão. Toda a Igreja, paróquias e dioceses, devem fazer um esforço para a renovação estrutural e a conversão pastoral. Esse pensamento é muito franciscano porque se trata de evangelizar toda a criatura. Encher a terra com o Evangelho, não somente os pobres, mas todos, sem exceção.
Missões: Como atuar em meio a tantas propostas religiosas?
Dom Caetano: A abertura ao diálogo é essencial na Igreja. Não se deve convencer na marra, mas pela atração, como diz o próprio Documento de Aparecida. É converter e reanimar os que estão afastados e já são batizados e eventualmente apresentar Jesus Cristo a quem não o conhece. Para isso é preciso ser atraente, saber utilizar os meios de comunicação que podem ajudar muito se os conhecemos e os utilizamos bem.
Missões: Como é viver o carisma franciscano hoje?
Dom Caetano:O carisma franciscano é bastante atual, exatamente na missão, por ser a primeira Ordem verdadeiramente missionária. Quando a comunidade passou a contar com muitos irmãos, São Francisco os enviou, dois a dois, pelas estradas para levar o Evangelho de Jesus Cristo. A Ordem logo recebeu missões fora da Europa, mundo afora. Outra característica da espiritualidade franciscana é a fraternidade universal e a ecologia. São Francisco é irmão universal de toda gente, de toda a criatura que devem viver como filhos de Deus, com cuidado para com a natureza e a criação. E a questão ecológica é um tema muito atual e importante. Destacaria também o tema da justiça e da paz, próprios de São Francisco, um homem pacífico.
Missões: Qual o desafio para a Diocese de Bauru? O que está previsto como as primeiras atividades na Diocese?
Dom Caetano: O desafio local é o mesmo desafio de toda a Igreja: entrar no estado permanente de missão. E na prática é a consciência do que isso exige que inclui a mudança de comportamento, coisa nada fácil. Como primeiras atividades, estão agendados alguns encontros com lideranças e celebrações. Existem duas prioridades: a primeira relaciona-se ao compreender a Diocese priorizando visitas às paróquias dos 14 municípios que a compõem. Depois saber discernir a realidade e, se preciso for, articular os conselhos e colegiados, porque o bispo não age sozinho. A segunda tarefa vem ao encontro de Aparecida e também inspirado no meu lema, que é saber impulsionar, animar a conversão estrutural das nossas paróquias e da nossa diocese. Vamos confirmar os serviços e atender as urgências conforme previsto no plano diocesano de pastoral.
Missões: Esse projeto contempla a Missão Continental abrindo a Igreja local para a Missão além de suas fronteiras?
Dom Caetano: Na Missão Continental devemos entrar em comunhão com toda a Igreja e ajudados pela CNBB que está estudando, entrarmos juntos no processo da Missão Continental, do qual ninguém deve ficar de fora. É um projeto que vai se clareando com a caminhada da própria Igreja.
Missões: O senhor pretende promover encontros com as comunidades, políticos e lideranças civis?
Dom Caetano: É importante que o bispo faça visitas pastorais que não são apenas visitas internas, mas com a sociedade, as autoridades, para se apresentar e buscar parcerias de interesse comum, fortalecendo a relação com as lideranças, com as forças vivas da sociedade em geral, seja governo ou comunitário, as lideranças sociais, os empresários os trabalhadores, mantendo com todos um diálogo. Isso inclui também a abertura ecumênica religiosa com as demais igrejas presentes na diocese.
Missões: A 47ª Assembleia Geral da CNBB revisou as diretrizes da Formação dos Presbíteros à luz do Documento de Aparecida. Como serão implementadas em Bauru?
Dom Caetano: Pelo documento aprovado ficou decidido que primeiro faremos o estudo do texto com a equipe de formadores, atualizando o nosso projeto local de formação. São propostas muito boas, sobre aspectos de preocupação da formação humana e acadêmica, do cuidado com a vida comunitária e fraterna dos padres. Somos um colegiado, uma comunidade composta pelo bispo, padres, diáconos permanentes e precisamos caminhar entrosados, numa verdadeira fraternidade. A partir disso fazer o trabalho pastoral. É necessário primeiramente estudá-lo bem para dar sentido à sua aplicação. Missões: Como o senhor avalia os serviços de comunicação na Igreja?Dom Caetano: Ainda estamos na situação de acolher as pessoas que frequentam a paróquia, na comunicação relacionada às pessoas que ouvem o padre na sua homilia. Então este serviço da acolhida leva ao serviço do envio, do ir ao encontro das pessoas. O missionário vai, mas deve pregar em cima dos telhados, como Jesus incentivava. Para isso, deve utilizar os meios de comunicação. Quando possível, a Igreja deve ter os seus próprios meios, ou então, conseguir espaços porque, apesar de toda a experiência milenar, estamos atrasados. Claro que não podemos cair no conceito de marketing, que apela para tudo. Entendemos que a comunicação deve ser executada e impulsionada a partir da ética. Quem vai controlar os meios: o dinheiro?A total liberdade dos meios não pode acontecer. A mídia é importante e a tecnologia pode ser muito bem utilizada a serviço do Evangelho. Enquanto podemos ter emissoras próprias, utilizaremos, caso contrário, devemos buscar espaços, e se nem nelas termos espaço, devemos ser a consciência ética e crítica. Ser Igreja também é saber cobrar de quem está a serviço do consumismo e dos interesses econômicos. Não podemos entrar no jogo. Como fica a nossa pregação e os valores que carregamos? Devemos observar e fazermos avanços, assim como já temos feito. Em Bauru, por exemplo, vejo que temos uma articulação boa, que existem pessoas atuantes. É um serviço essencial e isso não acontece em todos os lugares.
Missões: O senhor utiliza os microfones?
Dom Caetano: Existem coisas que eu sei fazer e faço bem, outras que faço mais ou menos, outras que eu não sei. Já utilizei algumas vezes, mas não é preciso saber tudo, melhor conhecer quem sabe fazer bem e confiar a eles esses serviços.
Cecília Soares de Paiva é jornalista, Relações Públicas e mestranda em Comunicação. Colaboradora da revista Missões.