terça-feira, 13 de julho de 2010

Cinema

Eles não usam black tie

Programação do Sesc Bauru - O cinema engajado de Leon Hirszman - após o filme, palestra e debate com o historiador e professor em comunicação Maximiliano, o Max, verdadeiro mestre e incentivador do pensamento!


Inesquecível, vale a pena registrar:

Em São Paulo, em 1980, o jovem operário Tião e sua namorada Maria decidem casar-se ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio, um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar.


Ficha Técnica
Título original: Eles não Usam Black-Tie
Gênero: Drama
Duração: 134 min.
Lançamento (Brasil): 1981
Distribuição: Embrafilme
Direção: Leon Hirszman
Roteiro: Gianfrancesco Guarnieri e Leon Hirszman
Produção: Leon Hirszman Produções e Embrafilme
Música: Adoniran Barbosa, Chico Buarque de Hollanda e Gianfrancesco Guarnieri
Fotografia: Lauro Escorel
Desenho de produção: Jefferson Albuquerque Júnior e Marcos Weinstock
Figurino: Yurika Yamasaki
Edição: Eduardo Escorel
Elenco
Gianfrancesco Guarnieri
Paulo José
Francisco Milani (Santini)
Milton Gonçalves (Bráulio)
Fernanda Montenegro
Bete Mendes
Antônio Petrin
Carlos Alberto Riccelli
Carlos Augusto Strazzer
Anselmo Vasconcelos
Nelson Xavier
Flávio Guarnieri
Lélia Abramo
Gésio Abreu
João Acaiabe
Maurício Amalfi
José Araújo
Jalusa Barcelos
Fernando Bezerra
Luiz Carlos Borges
Oduvaldo Brito
Aldo Bueno
Cachimbo
Leide Câmara
Rosiete Cavalcanti
Renato Consorte
Carlos Costa
Denoy de Oliveira
Walter Cruz
Eduardo da Conceição
Francisca da Conceição
Antônio Joaquim da Silva
Fernando Ramos Da Silva
Genésio de Barros
Rafael de Carvalho
Antonio De Pieri
Mercedes Dias
Ricardo Dias
João França
Maria Júlia Gomes
Cilas Gregório
Antonio Leite
Teresa Maldonado
Dirce Marques
Gilberto Moura
Maria Letícia Nascimento
Lizete Negreiros
Lene Nunes
Fernando Peixoto
Israel Pinheiro
Amaury Pinto
Almir Ribeiro
Cristina Rodrigues
Wilson Silva
Luiz Tedax
Tony Wilson

Pastoral Afro no Brasil

Publicação interessante:
http://www.revistamissoes.org.br/artigos/ler/id/1088
http://www.cnbb.org.br/site/afro-brasileira/4082-a-superacao-do-racismo

A superação do racismo

Apesar de ter conquistado espaço, a Pastoral Afro no Brasil enfrenta resistência mesmo naquelas questões que estão de acordo com os documentos e com o magistério da Igreja. Essa é a opinião de dom Gilio Felicio, o primeiro negro a chegar ao episcopado na arquidiocese de Salvador, na Bahia, em 1998, onde criou a Pastoral Afro. Poucos meses depois foi transferido para a cidade de Cruz das Almas, a 160 quilômetros da capital baiana. Gaúcho de Lageado, diocese de Santa Cruz do Sul, dom Gilio, em 2002 passou a ser o bispo de Bagé, RS. Desde a década de 80 acompanha e participa do Movimento Negro Católico junto aos Agentes Pastorais Negros. Em 1989 começou a participar do Instituto MARIAMA, uma articulação nacional de padres, bispos e diáconos negros, do qual foi presidente por dois mandatos. Foi até 2007 o bispo coordenador da Pastoral Afro-Brasileira, na CNBB. Participando do XVI Congresso Eucarístico Nacional, realizado logo após o término da 48ª Asssembleia Geral da CNBB, em Brasília, dom Gilio falou à revista Missões.


Qual a sua avaliação sobre a última Assembleia Geral dos Bispos do Brasil?

Foi uma grande benção para nós, bispos, que pudemos nos encontrar e fazer um rica convivência em Brasília pensando as coisas que são realizadas neste coração do Brasil, que definem a vida e a missão do país para o dinamismo interno e as relações internacionais. Evidentemente, a Igreja tem uma mensagem muito rica a apresentar para que de fato o país consiga formar uma comunidade, uma pátria amada, humanamente equilibrada, espiritualmente forte, vocacionalmente fecunda e com um desenvolvimento integral para todos. Analisamos e procuramos apresentar nosso posicionamento diante desta proposta em relação à defesa dos direitos humanos, reafirmando a posição da Igreja. Ao mesmo tempo aprovamos encaminhamentos a respeito da consideração e atitude dos brasileiros diante do uso dos recursos que a natureza oferece. Lembramos a necessidade urgente da reforma agrária, da política agrícola. Encaminhamos propostas para que a CNBB tenha na sua literatura elementos que farão as comunidades refletirem, rezarem e ajudarem os governantes.

A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja e as CEBs também foram temas refletidos?

A escolha de um grande tema prioritário é para fazer com que as comunidades sejam conhecidas, estimadas e fortalecidas na missão importantíssima que têm, de ser centro de evangelização e ao mesmo tempo centros de fortalecimento da consciência cidadã e também uma fonte de garantia de uma construção a partir dessas pequenas células de uma sociedade viva, justa e fraterna. Estas são comunidades que têm também a vocação de favorecer a partir da meditação da Palavra de Deus a oração e o compromisso com os desafios, fortalecer a cultura vocacional. Isto é, na medida em que as dioceses forem favorecendo as pequenas comunidade, as CEBs e também as novas comunidades, nós teremos um serviço eficaz para o despertar das várias vocações que favoreçam uma Igreja Povo de Deus toda ministerial.

Dizem que no Brasil não há racismo. Por que então há tão poucos padres e bispos negros brasileiros?

Esta é uma questão que de certa forma foi abordada e a Assembleia aconteceu enquanto o Brasil, de certa forma comemorou, mas também procurou mostrar o significado do 13 de maio, que oficialmente é proclamado como o Dia da Abolição da Escravatura. A CNBB elaborou um documento lembrando que na memória de mais um aniversário da Abolição deve-se fazer uma reflexão muito grande. Em primeiro lugar, a Igreja precisa continuar essa caminhada bonita de libertação dos condicionamentos que foram criados no tempo da escravidão e, portanto, dos mecanismos de exclusão dos valores africanos e afro-descendentes. Ao mesmo tempo, a Igreja, a partir do Documento de Aparecida, deve lutar para conhecer, assumir, estimar e promover os valores afro-descendentes. E, claro, colocar a sua missão cristã a serviço dos negros e negras que estão necessitando de uma força, de auto-estima, do dom de Deus presente na negritude, necessitando de políticas afirmativas, enfim, de serem atendidos nas suas carências, em seus gritos por socorro, mas ao mesmo tempo, no sentido de poderem participar e oferecer, como dizia o papa João Paulo II, em Santo Domingo, os seus valores culturais para enriquecer a Igreja e a sociedade.

Como está organizada a Pastoral Afro no Brasil?

No Brasil nós temos um Secretariado de Pastoral Afro, que marca presença na sede da CNBB junto ao Conselho de Assessoria da Ação Evangelizadora da Igreja. Este Secretariado acompanha e assessora a Pastoral Afro que está presente em quase todas as dioceses do país. Evidentemente, essa Pastoral está ligada ao Secretariado Latino-Americano e Caribenho de Pastoral Afro – SEPAFRO, do qual sou o responsável. Esse Secretariado seria a Seção Afro-Americana e faz parte do Departamento de Educação e Cultura do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM.

A Pastoral Afro encontra certa resistência em algumas dioceses. Quais seriam as maiores dificuldades?

Várias dioceses ainda não iniciaram essa pastoral exatamente em virtude desses condicionamentos da época da escravidão e da situação que pesa ainda na sociedade e na Igreja, do racismo, da discriminação racial e assim por diante. Percebemos na sociedade brasileira boa vontade com vários Centros e Entidades até em nível ministerial que estão trabalhando em favor da população negra. Mas há um longo caminho de superação desse condicionamento racista. Também, uma das dificuldades que encontramos na Igreja é a questão do diálogo ecumênico e inter-religioso. Nesse diálogo, nós não podemos fugir dos interlocutores que pertencem às religiões de matrizes africanas. Quando se estabelecem os encaminhamentos, quando esses diálogos começam, há uma resistência bastante grande. Um sonho que a Igreja tem é a inculturação da sua ação evangelizadora. Esse caminho também é bastante espinhoso, com muitas incompreensões. Evidentemente que a caminhada que se faz não é perfeita, mas há uma resistência mesmo naqueles passos que são dados e que estão absolutamente de acordo com os documentos e com o magistério da Igreja.

Se a Eucaristia é mistério tão poderoso, para suscitar a Missão, o que enfraquece o dinamismo missionário de tantos cristãos?

O pano de fundo é exatamente o que diz o Documento de Aparecida quando fala da profundidade e da verdade do Encontro com o mistério de Jesus Cristo. Na medida em que isso acontece verdadeiramente, a Ação Evangelizadora se torna eficaz. Vemos isso em outras confissões religiosas: mesmo não entendendo o mistério, as pessoas simples, entusiasmadas dão um recado que toca o coração da sociedade. Na medida em que os diversos ministérios dentro da Igreja se entusiasmarem e se deixarem dinamizar pela força do Espírito Santo na vivência da vontade de Deus, concretizando a Boa Nova de Jesus Cristo, tranquilamente acontece muita coisa bonita. Eu tenho várias experiências em periferias, nas quais muitas vezes o padre não vai, mas, alguma pessoa simples se entusiasma e vai deixando que esta luz toque o coração da vizinhança e de repente surge uma Comunidade de Base ou um movimento eclesial que passa a estabelecer uma novidade, às vezes transformando todo um edifício numa comunidade. Nem sempre o ministério ordenado dá conta da evangelização que deve acontecer. Os leigos têm um protagonismo que nós não podemos desprezar, embora, na nossa tradição católica é importantíssimo que tenhamos uma abundância do ministério ordenado.

Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões. Publicada na revista Missões, N. 7 Jul-Ago 2010