domingo, 28 de março de 2010

Partilha

Neste domingo de Ramos, percebi muitas pessoas capazes de deixar para trás o que acumulam ao longo da  vida, seja em relação a bens materiais ou em relação a sentimentos de infelicidade ou de frustração que pesa sobre os ombros. Conversei com pessoas que disseram nem lembrar de guardar mágoas quando algo não dá certo porque já estão fazendo outras coisas. Vivem em comunidades e tem objetivos muito concretos para com as pessoas que se encontram nela.
Disseram, nos poucos momentos que falamos, que guardar e acumular muito mais do que precisa para se viver obstrui os sentidos, dificulta o autoconhecimento, e pode cegar, deixando de conhecer e de colaborar com quem necessita de um pouco do que se pode doar. Sempre sobra alguma coisa, nem que seja uma palava sem sentido mas que dê alegria, que traga alívio para as tristezas que o outro carrega. Nem é preciso perceber que o outro está triste, mas se perceber, melhor ainda, a ajuda é mais objetiva.
Sensibilidade ou não, o importante é estar com o outro sem ser o outro, ter as próprias convicções e ouvir a dos outros, assegurar-se do que acredita sem impor nada, apenas compartilhar. Feliz Semana Santa.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Afeto

Comprei o livro lançamento da Cremilda Medina "Ciênca e Jornalismo, da herança positivista ao diálogo dos afetos". É um prosseguimento da sua linha de pensamento em relação ao diálogo possível e responsabilidade social do jornalismo. É muito claro em relação à nossa herança positivista e a possível reação diante dela. A aquisição foi fruto da minha participação no seminário coordenado pela autora, sobre liberdade de expressão e direito à informação, contexto América-Latina. Claro que pedi dedicatória, por a acompanhar desde a faculdade.

O seminário ocorreu durante dois dias, 24/25 de março, no Memorial da América Latina, ao lado da Barra Funda. A primeira manhã foi um dos pontos altos: “Panorama nas sociedades latino-americanas – da vocalização da Nova Ordem da Informação à doutrina contemporânea do terror mediático” - Impacto não? O conferencista Demétrio Magnoli é jornalista e estudioso de geopolítica, e vale a pena estudar as produções dele, recomendo. Magnoli contextualizou, política, econômica e socialmente, como está a vivência dos termos do seminário, incluindo o caso da blogueira cubana Yoani Sánchez: http://desdecuba.com/generaciony/.

Ontem falamos da censura imposta ao Estadão a partir da apresentação do José Maria Mayrink. Do Alberto Dines ouvimos sobre o meio século de sua atuação jornalística, dos convites que teve e das retiradas e demissões por força da crença em atender ao interese público, além de pontuações sobre o Observatório de Imprensa. Da Medina, tivemos uma apresentação povoada por reflexões dos participantes acerca da autoria coletiva, em que o jornalismo é mediador da informação de interesse público; do profissional que busca compreender um caos intenso provocado pela velocidade e pela quantidade de ações, e de informações; daquele que organiza um texto coeso, realístico e sem individualismos, sem se sentir o todo-poderoso, porque é um autor representativo.

Durante o tempo em que estivemos com o Alberto Dines, ouvimos sua história e versão sobre o quanto foi 'afetado' pela censura (afeto aqui sugerido no lado dos sentidos que nos fazem provocar revolta dos outros contra nós, nosso sentir na pele a quebra do 'contrato social'). Nesse período, tivemos uma cena marcante proporcionada por Mayrink, Dines e Cremilda: unidos por uma meia-luz, continuaram a conferência apenas com lâmpadas de emergência. Ficamos sem energia elétrica e com uma chuva torrencial que fez minha amiga Karla chegar no seminário toda 'enchuvarada'.

Nada interrompeu o período de debates. E houve cada provocação da platéia! Ótimas e convenientes e algumas inconvenientes, como sempre ocorre em um processo democrático!  Um processo dinâmico, provocativo e participativo. Entre tantas outras abordagens e acontecimentos em relação às apresentações e aos colegas de plateia, valeu muito para minha pesquisa. Algumas dúvidas foram esclarecidas, advindo outras. Se nada sei, não importa tanto, interessante é dizer em qual dimensão não sei.

A organização avisou que haverá continuidade dessa discussão no Memorial da América Latina, abordando a liberdade de imprensa e a democracia, com previsão para os dias 7,8 e 9 de abril.

Sobre a minha opinião no Estadão: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100326/not_imp529387,0.php
o que disse na ocasião foi bem mais do "Há um aspecto positivo nesta história da censura, que chamo de censura continuada: fazer com que a gente acorde para a opressão", e aí me pergunto se eles resumiram o sentido do acordar para a opressão se já estamos vivendo nela e com ela..creio que seria melhor terem escrito o sentido dito de acordar do torpor que essa opressão provoca...

terça-feira, 23 de março de 2010

Furdunço

Acompanhar a nova onda do imperador, digo do mercado midiático, traz muito desconforto como profissional da área. Sentir isso já nem é novidade. Quantas discussões estão girando em torno do casal nardoni. E tem mais: a pixação popular tanto nos muros perto de onde os nardoni passam, quanto nos 'muros virtuais'. Também sem novidades: na net encontramos de tudo, comparável e até superlativo ao que poderíamos encontrar fora dela, a diferença é o universo digitalizado. Fico imaginando as pessoas que carregam esse sobrenome. Levam pedras literais e virtuais. Tem inclusive artigos na Internet sobre as ofensas recebidas e as defesas necessárias.
Entre outras possibilidades de reflexão sobre o que a mídia nos 'brinda', lembro de uma entrevista do pai-nardoni comparando esse caso a julgamentos errôneos que já ocorreram na história, com a força da mídia. Disse que, caso os nardoni sejam condenados, será mais um veredito tipo Escola-base, lembrando-nos da famosa condenação midiática antecipada, comprovando-se depois que os donos da escola eram inocentes às acusações de pedofilia. Fora tudo comoção provocada pelo fanatismo acelerado pelo jornalismo dito sério.
E agora? o que esses sete jurados poderão encontrar como prova que chegue a uma sentença justa? Eles estão com laudos e informações menos subjetivas do que nós, pois, o que temos é o acesso à informação filtrada, digerida por vários olhares e recortes possibilitados pela complexidade que compõe a mídia. Não temos nada para julgar ou sentenciar. É certo que está criminalizada a situação. O casal é culpado de uma forma ou outra, tratando-se de uma criança indefesa, que deveria ter toda a sua vida resguardada pelos adultos que a tutelavam. Ocorreu o ato violento. Veio a morte de forma cruel. 
O que está sendo julgado, na verdade, é a intencionalidade de matar. Isso que pesa. Gera uma comoção tão grande que, para muitos brasileiros, é praticamente impossível não reagir. Os que não suportam qualquer tipo de passividade antecipam julgamentos, sentenciam, pixam, querem opinar e encontrar um modo de expor sua indignação e sua ira.  Mas onde e como mensurar essa intencionalidade?
Vem o mercado midiático e nos oferta todo tipo de ângulo, nuances e toda espécie de reconstituição possivel. Já convenceram praticamente à maioria. Isso se nota pela tendência instaurada nas comunidades encontradas no orkut e outras redes sociais.
Apesar das muitas manifestações de condenação antecipada, ainda encontramos pessoas que sentem seus pesares e suas dores com a imensa esperança de um julgamento justo, independente das abordagens das notícias ou do número de inserções da mídia.Também creio que ainda há como aguardar a sentença possibilitada pelo bom-senso dos sete jurados escolhidos. Tiveram acesso a dados que os gestores e envolvidos no processo conseguiram reunir, além de estão diretamente envolvidos com a responsabilidade que lhes pesa: sem cortes ou filtros para uma boa imagem ou para encaixe da palavra na coluna do jornal.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Zapatilla

Mudei tudo. Por ora, chega de gatekeeper, gatekeeping, agenda setting e Martín-Barbero. Todos continuam comigo, mas estão lá na primeira análise dos conceitos para a atual caminhada. Representam o "para onde estava indo". Agora já é hora da volta. Voltar a construir, a repensar idéias, a analisar com crítica. Pensar a comunicação depois de ouvir o conselho do Dominique Wolton e tals.

Insisti em trabalhar somente com as reflexões latino-americanas. Mas a palavra somente nesse caso é impossível, não é Canclini? SOMOS HÍBRIDOS. Eureka! Descobri a América!!! Isso me lembra a ironia do Humberto Eco quando diz para o coitado do iniciante pesquisador - eu - deixar de insistir no que é óbvio, não querer inventar a roda... 

Agora vou de chinelo de dedos! Assim penso melhor, lembra mochila, viagens, cheiro de mar!! É mais confortável racionar! Não que esteja chamando os novos conceitos de zapatillas, mas estão mais próximos comigo, já balbucio com Habermas! Logo espero construir uma frase inteira e começar o diálogo!

Tá certo! Na verdade, não foi uma mudança. Una zapatilla representa a caminhada em consenso com o pensamento teórico latino-americano! Muitas das construções teóricas latinas que encontrei usam a dialética do esclarecimento! E Habermas lá, no agir comunicativo, na evolução da teoria crítica. Viva o esclarecimento e o entendimento mútuo! Finalmente podemos dizer que os latinos são EXPLORADORES.

Exploramos o  raciocínio europeu e o americano, hibridizamos a escola de frankfurt, a de chicago e tudo o mais! Agora conseguimos conceituar chinelo de dedos, alpercatadas, havaianas, zapatillas...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Flanelada

Confesso. Tive uma crise, um momento de Orlando Furioso. Mas, olha, vou te contar pra relaxar da dissertação.

Estacionei a duas quadras da casa de espetáculos. Noite escura, cheia de sombras definidas e indefinidas. Antes de desligar o motor, percebi uma pessoa caminhando em minha direção. A dedução foi rápida sobre o que se tratava. Imediatamente tentei evitar o confronto. Porque haveria um. Engatei a marcha a ré, mas a pessoa apertou o passo e nao teve jeito:


- Posso cuidar do carro? - Perguntou de súbito e no mesmo tom tive que responder:
- Ele já está cuidado. Paguei o licenciamento em janeiro. Fevereiro e março vem emplacamento, e até junho fico com o imposto da calçada e da rua que piso. Cuido pra não ter multas, e fico sem tirar as duas mãos do volante, sem desviar a atenção do que vejo ou ouço.
.
Bate-boca infeliz! Em dois tempos percebi o absurdo da cena, e respondi diferente. O duro é tirar o sentido do que se quer realmente falar porque se sabe o que vem depois. É o fim do sossego. Acaba a concentração e a animação. Não há show ou atração que ajude. A vontade é ir, mas logo voltar e dizer: - Voltei antes pra também cuidar do carro e do flanelinha. Ou então: - Hoje é teu dia de sorte, tenho moedinha! - Aí entrega faceira uma moeda de cinco ou dez centavos e espera mais faceira ainda a reação. O duro depois é ver a moedinha rolando asfalto afora jogada na tua cara! Mas já relaxava! Quem poderia dizer que não entreguei o troco.

Aliás esse nome flanelinha nao corresponde. Poderiam lustrar pelo menos a parte das manchas que deixam ao se encostarem nos carros. Bah, é duro ver tanto disparate social, mas pior ainda é achar normal o aproveitamento e as ilegalidades por conta disso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mídia convencional, mídia digital e outras defesas

O observatório 'do Dines' traz discussões a respeito da queda e/ou do fim de meios de comunicação convencional. A causa ja se tornou assunto velho: as novas mídias superam as antigas. Uma se trata de pesquisa que avalia o estado do jornalismo nos EUA, incluindo índices de perdas publicitárias em todos os tipo de mídia jornalística, incluindo online. O aumento foi para o uso do jornaismo nas mídia sociais, principalmente para os chamados microblogs, apontando o twitter e o facebook.

Outra se trata da reforma visual do Estadão. Artigo de Dines. O Estadão inovou aos 135 anos de vida e, se duvidar, uma hora apaga a velinha dos 365 dias sob censura. Dines continua sob argumentos da 'falta de compromisso' no jornalismo, etc, jornalismo de descrédito, etc, e na defesa da perenidade do papel, etc. Também defendo, etc., etc, senao nem leria mais o Dines. No artigo, o velho guerreiro (para o Dines) rasga-se de elogios para a nova 'cara' do Estadão e dá a certeza que, no Brasil, o jornal não tem data para acabar. O artigo comenta a qualidade, a elegância, e o conteúdo (ufa! ainda bem que tem inovação) falando que a entrevista com o Umberto Eco é 'tomada de posição.

E É uma entrevista 'muy buena' do 'outro velho guerreiro' de 78 anos, conhecido pelo clássico "O nome da Rosa", pelo útil que está a minha frente "Como se faz uma Tese', entre outros. Eco, falando com ele já íntima, diz que o livro, um produto de cinco séculos, é uma invenção consolidada como a roda. Depois que inventaram, só vai, nao tem como deter. Defesa total do impresso sem desprezar os digitais.

O homem tem duas coleções básicas de livros: uma com 30 mil volumes e outra com 50 mil volumes, e ainda fala que estão ali porque ainda não os leu: os lidos estão nas bibliotecas. O bom é que ele tem senso de humor e gosta de Ratatouille, como eu (rs).

De tudo isso, fico contento com o artigo que escrevi sobre o jornalismo impresso e online, em 2007: tá valendo!

terça-feira, 16 de março de 2010

Cargo vago: ministro das comunicações

Lula procura um novo ministro das comunicações que saiba lidar com o que considera 'mídia agressiva'. O anterior, Helio Costa, irá deixar o cargo em abril.
O responsável pela indicação é o PMDB.

Não sei o que é mais absurdo, a escolha por uma segmentação partidária ou as pretensões do presidente que, pelo que tudo indica, tem intenções objetivas para que o proximo comunicador cuide de 'amaciar' a candidatura da dilma.

É preocupante o que se pensa dos profissionais de comunicação. E mais preocupante o que fazem após escolhas sem nenhuma consideração aos ouvidos, olhos e raciocínio dos receptores. Mediadores falsos ou fajutos? Fajutos e falsos.